10 maneiras de trabalhar com urbanismo
Muitos se perguntam como podem contribuir com a cidade ou iniciar um projeto para ela. Esta é a lista atualizada com algumas das principais possibilidades.
Bairros e comunidades necessitam de espaços públicos onde as pessoas gostam de estar. Existem diferentes formas de ativar esses espaços, tornando-os mais vibrantes e interessantes.
5 de maio de 2025“As intrincadas misturas de diferentes usos nas cidades não são uma forma de caos. Ao contrário, representam uma forma complexa e altamente desenvolvida de ordem.” — Jane Jacobs
Holly Whyte costumava dizer que “o que mais atrai as pessoas, ao que tudo indica, são outras pessoas”. Quando isso acontece — quando a presença de pessoas em um determinado local de um bairro atrai ainda mais pessoas, que voltam repetidamente porque gostam de estar ali — temos o que chamamos de espaço de convivência.
Um espaço de convivência é uma área cheia de vitalidade pela presença de pessoas que se reúnem ali e se divertem. Em termos mais concretos, é um lugar onde a combinação de comodidades, recursos e atividades cria um ambiente agradável, que as pessoas gostam de frequentar, transformando-se assim em um ponto de encontro.
Esse espaço pode ter diversas formas. Pode ser um café popular com mesas ao ar livre, uma área vibrante de uma feira ou mercado público, ou pode até mesmo ser apenas um trecho da calçada onde há uma mistura de comércio e amenidades que atraem o público.
O renomado urbanista David Engwicht fala sobre a importância de criar calçadas que funcionem como uma sequência de salas, e não apenas como corredores. Um corredor é apenas um canal por onde se passa, enquanto salas são destinos onde se permanece. Essas “salas” são espaços de convivência — espaços públicos que parecem a sala de estar da sua casa, onde você pode se reunir com a sua comunidade e aproveitar o tempo juntos.
Leia mais: Como os espaços públicos repelem ou atraem as pessoas
Um espaço de convivência é aquele lugar que vem à mente quando você pensa onde encontrar os amigos ou o lugar onde você acaba parando depois de um passeio. É um espaço com uma atmosfera que atrai as pessoas por ser sinônimo de socialização, diversão e vitalidade. Esses espaços são fundamentais para o tecido urbano porque são os lugares onde as pessoas gostam de estar e, portanto, onde as conexões acontecem e as comunidades se formam.
Mas como podemos criar espaços de convivência? Existem alguns princípios que podem nos guiar no processo.
No Placemaking, triangulação é o conceito que explica como os elementos de um espaço devem ser posicionados em relação uns aos outros para que “o todo seja maior do que a soma das partes”. Por exemplo: se um banco, um carrinho de sorvete e uma estrutura de sombra forem alocados separadamente ao longo de uma calçada, cada um deles terá um pouco de uso. No entanto, isoladamente, são elementos unidimensionais demais para atrair muita atividade. Os bons espaços são multidimensionais.
Se esses mesmos elementos forem dispostos próximos, interagindo entre si, eles criam um destino mais agradável para se estar. Esse destino atrai muito mais pessoas. Ele se transforma em um espaço de convivência.
Muitas áreas das nossas cidades, especialmente as calçadas, estão repletas de espaços subutilizados. David Engwicht chama de eddy spaces (“espaços de redemoinho”) os espaços residuais nas bordas das calçadas que muitas vezes passam despercebidos, e explica como eles possuem um grande potencial. É por exemplo o espaço entre um banco e uma árvore, ou ao redor de um poste. Com criatividade e improviso, esses pontos podem ser transformados em áreas de lazer ou descanso, e podem se tornar a peça que faltava para completar uma triangulação e ativar o espaço.
A razão pela qual a triangulação é tão eficaz é porque ela cria um núcleo mais “fechado” e interativo ao invés de um comércio ou amenidade isolados. O mesmo ocorre quando você ativa os dois lados de uma calçada. Isso significa inserir elementos de atração — no lado da fachada ter vitrines interativas, portas abertas, expositores externos e toldos, e no lado do meio-fio ter lugares para sentar, quiosques, carrinhos de comida, entre outros.
Com atividades nos dois lados, a calçada começa a parecer um túnel com vitalidade comercial e social. Ela deixa de parecer uma borda de uma via movimentada e passa a ser um espaço público vibrante, repleto de pontos de encontro. Isso transforma a cidade de uma rede de eixos viários em um conjunto de destinos atrativos.
A regra do “Poder do 10+” é como uma versão avançada do princípio da triangulação. Para que um lugar seja atrativo, ele precisa ser interessante. E para ser interessante, ele precisa ter uma variedade de coisas para fazer lá. No movimento do Placemaking, estima-se que cada espaço deve oferecer pelo menos 10 coisas diferentes para fazer para ser considerado suficientemente interessante e vibrante. Essa lógica pode ser aplicada em uma escala maior, visando ter 10 ou mais espaços em uma determinada área, cada um com 10 ou mais atividades. Se forem vibrantes o suficiente, cada um desses locais será considerado um espaço de convivência.
Espaços de convivência são destinos amados, lugares com múltiplas camadas, incubadoras de comunidades e muito mais. São os espaços ao redor dos quais nós gravitamos, porque sentimos ali a energia da vida em sociedade. Eles podem ser pequenos e locais, como um restaurante de bairro, ou grandes e públicos, como um parque.
Leia mais: A vitalidade urbana começa colocando as pessoas em 1.º lugar
Eles são marcados por uma intensidade de atividades que torna irresistível a vontade de parar ali ou permanecer. São lugares que recordamos com carinho ao pensar no passado e que esperamos visitar novamente no futuro.
É preciso um espaço de convivência para criar uma comunidade, e de uma comunidade para criar um espaço de convivência. O processo de construção desses espaços é dinâmico, colaborativo e nos aproxima. Quanto mais pontos de encontro nós tivermos, mais vibrantes nossas comunidades serão.
Artigo originalmente publicado em Social Life Project, em fevereiro de 2025.
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Quero apoiarMuitos se perguntam como podem contribuir com a cidade ou iniciar um projeto para ela. Esta é a lista atualizada com algumas das principais possibilidades.
Confira nossa conversa com Henrique Evers e Guilherme Iablonovski sobre como foi a expansão demográfica e morfológica das cidades brasileiras nos últimos 30 anos.
A facilidade que cada pessoa tem de se deslocar na cidade depende de vários fatores. Analisar a eficiência e as restrições desses deslocamentos é fundamental na gestão urbana.
É importante avaliar os resultados positivos e negativos dessa política. O que os casos até agora têm mostrado?
O novo governo do Reino Unido recentemente divulgou uma meta ousada de que 1,5 milhão de novas moradias serão entregues na Inglaterra durante este mandato, porém desafios específicos e globais mostram como a política habitacional é um tema complexo mesmo em economias desenvolvidas.
Nos últimos anos, os efeitos das fortes chuvas têm sido uma fonte constante de apreensão para a população brasileira, por serem cada vez mais frequentes. Por que implantar soluções efetivas contra as enchentes no Brasil parece ser tão difícil?
As caronas compartilhadas com veículos autônomos prometem transformar a mobilidade urbana, reduzindo congestionamentos e a necessidade de carros particulares. Para que os benefícios se concretizem, é essencial que autoridades públicas se antecipem e integrem esses serviços ao transporte coletivo.
Infraestrutura urbana robusta e rígida não é o suficiente. Medidas proativas de gerenciamento das consequências de eventos extremos são necessárias para preparar as cidades brasileiras para as mudanças climáticas.
O desenvolvimento urbano da capital foi muito além do Plano Piloto, mesmo antes de sua inauguração.
COMENTÁRIOS