Eu prometo (mas não entrego)

29 de agosto de 2024

Gosto muito de política, não apenas pelos motivos de sempre, os conhecidos e os consagrados, mas por duas outras razões: adoro debater ideias, qualquer uma, e tenho verdadeiro fascínio pela diferença entre as pessoas na forma de pensar e de ver o mundo.

Poucos momentos na vida brasileira são tão divertidos de serem observados – em detalhe – como as campanhas políticas para as prefeituras e para as câmaras de vereadores. É uma verdadeira festa, um banquete sociológico.

Para começar, são pessoas completamente diferentes mas que, estranhamente, se portam, se expressam e fazem promessas praticamente iguais, a despeito até mesmo de suas plataformas políticas e grupos de influência aos quais pertencem.

Transporte grátis, bolsa isso, bolsa aquilo, mais escolas, melhoria da saúde, mais empregos. Passeios pelos bairros que não frequentam, lanches que jamais comem, proximidade e conversas com pessoas com as quais jamais tem tempo e oportunidade de receber e conversar.

Embora a disputa seja para gestão de uma cidade, a cidade propriamente dita é pouco mais que um coadjuvante na campanha; o foco das promessas são sempre as pessoas, nunca a cidade.

E penso que nem poderia ser muito diferente, já que a maioria deles não conhece nadica de nada sobre cidades, urbanismo e arquitetura, para além dos clichês evidentes e dos briefings produzidos por suas assessorias. São verdadeiros papagaios, repetindo obviedades, lançando platitudes e prometendo o que não podem (e, muitas vezes, nem têm intenção de) entregar.

Pode parecer um contrassenso, até mesmo chocante, mas um prefeito precisa gostar de cidade, conhecer sobre cidades e sobre urbanismo. Administrar uma cidade não é administrar pessoas, nem prometer benesses, privilégios ou mentiras.

A missão de um prefeito é, antes de qualquer coisa, administrar a cidade, melhorar a cidade, incrementar a cidade, suas áreas públicas, seu sistema de mobilidade e transporte público, fomentar negócios que aumentam a oferta de empregos, facilitar e incentivar a construção de moradias, investir em lazer.

E essa plataforma, a cidade, quando evoluída e bem resolvida, quando bem administrada, quando limpa e segura, quando amigável com os empreendedores, vai proporcionar mais empregos, gerar mais riqueza e se tornar mais atrativa para a sua população.

E é o resultado positivo nessa equação que melhora a vida da população e de cada cidadão, não as promessas vazias, as falsas gratuidades, as meias-entradas e a tolerância com a sujeira, com a insegurança, nem o empoderamento dos burocratas e da burocracia.

A população, numa cidade, só pode ser beneficiada quando a cidade melhora; de outra forma, é só distribuição de privilégios para algum grupo, às expensas dos demais.

Para além do meu fascínio sociológico, a verdade é bastante simples: não precisamos de influencers, radialistas ou políticos velhacos; precisamos de indivíduos que gostem verdadeiramente de cidades, e que possuam conhecimentos reais sobre cidades e urbanismo.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteto e Urbanista por 25 anos, Incorporador pelos últimos 5 anos (e contando). (lmyssior@gmail.com)
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