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O livro "O Rio de Janeiro nas Alturas" tem como ideia central mostrar a marca do tempo que os edifícios deixavam em seus bairros. Com as constantes mudanças na legislação urbanística, sem prévios estudos da forma urbana, isso ainda será possível?
22 de abril de 2021O livro “O Rio de Janeiro nas Alturas” surgiu de uma brincadeira de pai e filho, que versavam sobre identificar, no perfil edilício da cidade, a época e a legislação urbanística que embasaram aquelas construções. Com a constante mudança na legislação urbanística, sem prévios estudos da forma urbana, podemos decretar o fim da continuidade de nossa obra?
A ideia central tinha como objetivo mostrar uma das principais características da evolução da paisagem do Rio de Janeiro, que era a marca do tempo que os edifícios deixavam em seus bairros. Isso pode ser visto em treze capítulos, além do capítulo inicial, que falam de diversos bairros e suas trajetórias de crescimento.
Podemos entender também que a cidade teve momentos em que suas posturas edílicas abarcavam a cidade como um todo e em outro, principalmente depois do Plano Urbanístico Básico (PUB-Rio), ela é tratada por regiões, uma decisão que vai de encontro a diversidade de paisagens que o perfil da cidade nos coloca.
Mas a constante alteração da legislação, tanto para regularizar construções irregulares, quanto para alterar as paisagens já consolidadas, vão no sentido oposto no qual nosso trabalho se baseia. A fácil identificação da transformação da forma urbana da cidade era um dos grandes pontos fortes da pesquisa e que ajudou a muitos no entendimento da evolução urbana do Rio.
Para exemplificar podemos trazer algumas destas alterações. O mais marcante e consolidado na cultura carioca é o puxadinho. Normalmente feito em ampliações das coberturas dos edifícios ou até a criação de um novo pavimento, onde não existia originalmente, ele se perpetuou e marca a cidade.
Mesmo criticado, este modelo se ampara nas constantes leis de “mais valia” que o município produz ao longo do tempo e que dão suporte a quem transgride um gabarito permitido com a certeza que em algum momento ele poderá pagar uma taxa e regularizar. A Lei Complementar 219 de 2020, tão criticada e chamada de “lei dos puxadinhos”, era só mais um deste rol de leis que alteram a paisagem da cidade.
Em 2009 a LC 108/2010, com o objetivo de dar “incentivos e benefícios urbanísticos visando à realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016”, permite diversas alterações na legislação urbanística da cidade.
Uma das mais marcantes se deu num edifício destinado a hotel no bairro de Copacabana. Como a área a ser construída para hotéis na cidade se dá por um cálculo do volume permitido para uma edificação residencial, e com a permissão de usar, para edificações coladas nas divisas, o gabarito estabelecido na década de 1940, acrescido do embasamento garagem da década de 1970, traz um rompimento ao perfil existente no bairro.
E, por último, para exemplificar e responder a questão deste texto, trazemos a alteração da forma dos edifícios com a permissão da construção de varandas em edifícios existentes. Com isso, diversos edifícios anteriores a 1970 e que tinham como característica marcante a ausência de varandas passam a iludir nossos olhos com a reformulação de suas fachadas que se confundem com edificações mais contemporâneas. Aliado a isso, a permissão do fechamento das varandas com vidro traz um contra senso daqueles que queriam este elemento como espaço de contemplação e passa na verdade a ter uma aumento de seus compartimentos de sala e quartos.
Mesmo que quiséssemos continuar reeditando o livro “O Rio de Janeiro nas Alturas”, aquele prazer de ter a marca da evolução urbana da cidade estampada em cada edifício passa a ser um trabalho investigativo, quase que arqueológico, isto, neste momento, não permeia nossos interesses quanto pesquisadores, mas quem sabe no futuro. Só o tempo e a evolução urbana dirão.
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