Políticas de gênero e desenvolvimento urbano: o papel das mulheres na transformação das favelas
28 de fevereiro de 2025Está quente? Na Índia, as temperaturas podem chegar aos 50°C em algumas regiões, tornando a vida ainda mais difícil para as comunidades. Para enfrentar esse problema, a ONG Mahila Housing Trust tem desenvolvido soluções inovadoras para ajudar mulheres a adaptar suas casas e reduzir o impacto do calor extremo.
A MHT trabalha diretamente com mulheres, capacitando-as para implementar medidas de resiliência climática em suas moradias. Algumas dessas soluções incluem o uso do airlite, um plástico transparente que melhora a ventilação sem bloquear a luz, e o modroof, um telhado modular feito de papelão e resíduos agrícolas que isola melhor as casas do calor. A ONG incentiva a pintura dos telhados de branco, uma técnica simples e eficiente que pode reduzir significativamente a temperatura interna das casas.
Além da questão térmica, a MHT atua para garantir direitos à moradia e à terra para as mulheres, melhora o acesso à água e saneamento e promove a participação feminina na governança urbana. Ela busca empoderar as mulheres para liderarem essas transformações e fortalece a autonomia feminina e a resiliência das comunidades frente às mudanças climáticas.
As mulheres têm um papel essencial no desenvolvimento territorial, especialmente em favelas, onde muitas residências são lideradas por elas, seja na administração da casa, no cuidado com os filhos e vizinhos, na organização comunitária ou na luta por melhores condições de moradia. No entanto, ainda enfrentam barreiras para participar ativamente da tomada de decisões e acessar capacitação técnica que as fortaleça como agentes de transformação em seus próprios territórios.
Sylvia Chant, geógrafa e professora da London School of Economics (LSE), desenvolveu pesquisas importantes sobre a relação entre gênero, urbanização e pobreza. Em seu livro “Gender, Cities and the Sustainable Development Goals” (“Gênero, Cidades e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”), ela discute como a urbanização impacta mulheres de maneira desigual e reforça a necessidade de políticas públicas que garantam sua participação ativa na gestão dos territórios.
De acordo com a cartilha “State of Women in Cities 2012-2013: Gender and the Prosperity of Cities”, desenvolvida pela ONU-Habitat, as ONGs e a sociedade civil são consideradas por mais de um terço dos habitantes urbanos como os principais agentes na implementação de políticas de igualdade de gênero. Embora os governos também sejam reconhecidos como atores relevantes, a percepção geral é de que os recursos para essas iniciativas vêm predominantemente do setor público (47%), seguido pelas ONGs (20%).
Esse dado ressalta a importância da colaboração entre governos locais, ONGs e associações comunitárias para fortalecer políticas urbanas voltadas para as mulheres. No contexto da América Latina, essa relação se torna ainda mais evidente, já que as ONGs frequentemente auxiliam na execução dessas políticas, muitas vezes suprindo lacunas deixadas pelo setor público. Iniciativas comunitárias lideradas por mulheres, como as que temos visto em favelas e periferias, mostram que o impacto real acontece quando há apoio e articulação entre diferentes atores. Esse cenário reforça a necessidade de ampliar parcerias entre governos, organizações da sociedade civil e movimentos femininos locais, garantindo que as mulheres tenham acesso a recursos e espaços de decisão.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.