O que acontece se as habitações de uma cidade são muito caras?

17 de setembro de 2024

Quais as consequências do encarecimento dos preços das habitações em uma grande cidade? Para responder tal questão, podemos imaginar que as pessoas que não têm condições de financiar uma moradia ou de pagar por seu aluguel continuarão precisando morar em algum lugar. Tendo em vista que grandes cidades tendem a apresentar mais oportunidades de emprego, tais indivíduos ainda terão interesse de se manter próximos a elas. Portanto, duas das opções que restam são a de recorrer à informalidade habitacional ou a de se mudar para cidades próximas com habitações baratas.

A partir dos dados de nosso Indicador de Acesso Habitacional, podemos identificar quais são as cidades em que o preço mediano dos imóveis é mais elevado em relação à renda da população. Complementarmente, para entender se de fato ocorrem as referidas reações da população aos altos preços residenciais, pode-se buscar dados sobre a dimensão da informalidade habitacional nas cidades e da quantidade de pessoas que trabalham em um município, mas habitam outra cidade.

Para esse segundo caso, outro de nossos indicadores mostra qual a relação entre a quantidade de empregos de um município e o número de habitantes empregados. Quanto maior o valor desse indicador, mais empregos a cidade possui em relação aos habitantes ocupados, o que significa que maior é a quantidade de postos de trabalho ocupados por residentes de outras cidades. Cruzando esse indicador de trabalho e local de moradia – atualizado na última semana – com os valores de acesso habitacional das capitais brasileiras, podemos verificar se as cidades mais caras são, de fato, aquelas que mais “perdem” pessoas para os municípios dos arredores.

O gráfico abaixo ilustra essa análise. Nele, cada ponto representa uma capital brasileira. Quanto mais para cima estiver o ponto, mais caras são as habitações em relação à sua renda domiciliar média; e quanto mais para a direita estiver o ponto, maior é o percentual de empregos ocupados por residentes de outros municípios. Observamos que as cidades com moradias mais caras (São Luís, Maceió, Florianópolis, Recife e Fortaleza) também possuem alguns dos maiores valores do indicador de trabalho, o que corrobora a hipótese inicial sobre as pessoas se mudarem quando as habitações se tornam muito caras.

Imagem: Cidades Responsivas

Também podemos utilizar dados do IBGE sobre domicílios localizados em situação de informalidade para complementar a análise. Tal comparação, porém, não reflete exatamente a situação atual, pois tais dados do IBGE são baseados no Censo de 2010. Nesse sentido, o gráfico abaixo mostra que, apesar de matematicamente existir uma tendência de aumento da informalidade conforme os preços das habitações aumentam, é difícil traçar conclusões definitivas sobre seus resultados devido à desatualização dos dados de informalidade. 

Imagem: Cidades Responsivas

Tais análises ilustram possíveis efeitos do encarecimento das habitações. Por um lado, os empregos ocupados por habitantes de outras cidades representam a demanda habitacional que a cidade “perde” devido aos altos preços, reduzindo o ganho municipal com impostos e com o consumo de tais indivíduos nos comércios da cidade. Já o aumento da informalidade habitacional tende a agravar o problema de ocupação urbana em áreas de risco, por exemplo. Tais questões mostram a importância da administração pública acompanhar a evolução dos dados urbanos com frequência, para que ela possa tentar mitigar tais problemas o mais cedo possível.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Núcleo de ensino, pesquisa e difusão de conhecimento com foco em arquitetura, tecnologia e economia urbana. (luciana@responsivecities.com)
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