Em uma recente viagem a Belo Horizonte, fiz o que qualquer pessoa sensata faria: fui direto para os mercados. Mas não foi só pelo queijo, pela cachaça, pelo café (ok, talvez um pouco). Minha curiosidade também era entender como esses espaços evoluíram ao longo do tempo e o que eles dizem sobre a cidade.
Visitei três mercados icônicos da capital mineira: Mercado Central, Mercado Novo e Mercado de Origem. Cada um deles representa um momento da cidade – da tradição à reinvenção e, mais recentemente, a um modelo que flerta com o futuro do varejo e da gastronomia. Mas, acima de tudo, esses mercados mostram como o urbanismo e a cultura caminham juntos.
Mercado Central: o clássico inabalável
Fundado em 1929, o Mercado Central é o coração gastronômico e cultural de BH. Se você quer conhecer a alma da cidade, é aqui que ela se manifesta: cheiro gostoso de fígado com jiló, balcão de bar com cerveja gelada e vendedores que parecem amigos de infância. O mercado sobreviveu ao tempo porque soube se adaptar sem perder o encanto.
Seu segredo? Um equilíbrio entre tradição e renovação. Ao contrário de muitos mercados históricos que viraram apenas ponto turístico, o Mercado Central ainda é um lugar de compra para os moradores, um espaço vivo onde o pequeno comércio resiste. Urbanisticamente, ele cumpre uma função essencial: é um ponto de encontro e identidade, um lugar onde a cidade acontece.
Mercado Novo: do abandono ao hype
Se o Mercado Central representa a resistência, o Mercado Novo, inaugurado em 1960, simboliza o poder da reinvenção. Por anos, ele foi um espaço subutilizado, sem muito brilho. Mas nos últimos tempos, o mercado passou por uma reocupação espontânea e virou referência em cultura, gastronomia e vida noturna.
Hoje, você encontra lá cervejarias artesanais, cafeterias descoladas, livrarias independentes e ateliês de artistas. A arquitetura modernista, antes ignorada, agora é um atrativo. O Mercado Novo mostra como o reaproveitamento de espaços urbanos pode gerar novos fluxos e dinâmicas, transformando um prédio subutilizado em um núcleo vibrante de vida urbana.
Mercado de Origem: por um futuro mais sustentável
O caçula da turma, inaugurado em 2024, o Mercado de Origem tem um conceito diferente dos outros dois: ele propõe um modelo direto do produtor para o consumidor, encurtando cadeias de distribuição e apostando na sustentabilidade.
É um projeto alinhado com tendências contemporâneas de consumo consciente, valorizando o pequeno produtor e oferecendo uma experiência mais transparente para o cliente. Aqui, o urbanismo encontra a nova economia, mostrando que mercados também podem ser agentes de transformação social e ambiental.
O que esses mercados dizem sobre a cidade?
Cada um desses mercados reflete um momento da evolução urbana de Belo Horizonte. Juntos, eles mostram como esses espaços podem se adaptar, resistir e se reinventar sem perder seu papel central na cidade. O Mercado Central nos lembra que tradição e identidade são ativos urbanos poderosos. O Mercado Novo prova que a reocupação criativa pode dar nova vida a espaços abandonados. O Mercado de Origem sugere que o futuro pode ser mais sustentável e conectado à produção local.
Mais do que lugares para comprar comida, os mercados são centros vivos de cultura, encontros e urbanismo. E no fim das contas, nada melhor do que entender uma cidade por meio dos seus mercados – de preferência, com um pão de queijo na mão e uma dose de cachaça do lado.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.