Imagine limpeza, segurança e felicidade. Imagine.

25 de setembro de 2025

A relação entre segurança e felicidade é evidente, mais pela negação do que qualquer outra coisa: é difícil ser feliz num lugar perigoso e caótico.

Na mesma toada, podemos supor que seja difícil ser feliz em cidades sujas, nas que não têm espaços de lazer ao alcance do cidadão ou naquelas que, espalhadas demais por políticas de baixa densidade, obrigam o cidadão a grandes deslocamentos diários.

Usei “felicidade”, mas poderia estar falando da outra face dessa moeda: tristeza, angústia, raiva, frustração, desânimo e todo um conjunto de estados que drenam a energia e a vontade de fazer.

“Está insatisfeito, mude para uma cidade melhor”, alguns dirão. Mas a realidade é que, ao contrário dos EUA, onde a mobilidade é absurdamente alta, a maior parte da população de qualquer cidade brasileira passará a sua vida na mesma cidade em que nasceu, seja por comodismo, seja por falta de visão ou de oportunidade.

Por essa ótica, as cidades passam a ter uma enorme relevância na saúde mental e emocional de sua população, e da população brasileira como um todo, proporcionando boas condições ou, ao contrário, enterrando possibilidades e determinando futuros (ruins).

A importância da segurança pública, da limpeza e da qualidade do transporte público é óbvia, e não faltam estudos, métricas, reportagens, denúncias, planos de governo e anúncios em palanques. Mas faltam eficiência e políticas de longo prazo, para além da operação e das tarefas diárias de patrulhamento e coleta do lixo. Falta, muitas vezes, a compreensão dessas questões enquanto saúde pública, na qual toda uma população não pode ser sacrificada no altar do “bom-mocismo” por alguns milhares de moradores de rua, com liberdade para fazer, literalmente, o que quiserem, e onde quiserem.

Imagine o impacto positivo, na saúde mental e emocional de milhões de pessoas que passam diariamente pelo centro de qualquer metrópole brasileira, se esse centro estivesse limpo e livre de moradores de rua, ambulantes e criminosos? Imagine o impacto social e econômico para essa região? Imagine a redução na demanda pelo transporte público? 

Imagine, nessa realidade projetada (ou, melhor, desejada), as praças e os parques abertos, preservados, limpos, bem iluminados? Imagine a importância do contato com a natureza na saúde pública, mental e emocional da população? Imagine a redução dos custos de manutenção das praças e dos parques, porque estariam limpos, seguros e sendo amplamente utilizados? Imagine essa economia de recursos sendo direcionada para, por exemplo, a educação?

Imagine.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR e fundador do INSTITUTO CALÇADA. Acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou. (lmyssior@gmail.com)
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