Nordeste na moda e o quiet luxury

6 de fevereiro de 2025

O conceito de quiet luxury tem ganhado destaque em diversas áreas, da moda ao design de interiores, caracterizando-se pela elegância discreta, materiais nobres e uma sofisticação destituída de ostentação. No urbanismo, essa ideia pode ser traduzida em espaços que valorizam a experiência, o contexto e a qualidade de vida, sem excessos ou intervenções que descaracterizem a identidade local, é chic ser respeitoso. No Nordeste, algumas cidades têm se tornado exemplos desse luxo silencioso, onde a arquitetura, o urbanismo e a natureza coexistem de forma equilibrada, oferecendo um modelo de desenvolvimento sustentável e desejável.

O vilarejo baiano de Trancoso é um dos exemplos mais emblemáticos de quiet luxury no Brasil. Seu famoso Quadrado, com casas brancas e coloridas e uma igreja colonial de 1656, conserva uma atmosfera autêntica, enquanto pousadas de alta qualidade se misturam à paisagem sem agredir o entorno. Trancoso mostra como um destino pode ser sofisticado sem perder sua essência. 

A paisagem natural e o modo de vida de várias cidades litorâneas no Nordeste favorecem uma abordagem que se alinha ao conceito de quiet luxury. O uso de materiais locais como madeira, palha e pedras naturais, um urbanismo que privilegia ruas caminháveis e praças arborizadas e a integração com a cultura local criam ambientes sofisticados sem a necessidade de artifícios extravagantes. 

É um modelo que se distancia da massificação turística e dos grandes empreendimentos que muitas vezes comprometem a identidade das regiões.

Localizado no Rio Grande do Norte, São Miguel do Gostoso se consolidou como um destino exclusivo, onde a simplicidade é parte do charme. Pequenas pousadas boutique com design integrado à paisagem, ruas sem calçadas de concreto e um estilo de vida que valoriza a tranquilidade fazem da cidade um exemplo claro de sofisticação discreta. Uma cidade com beleza natural, ventos constantes, urbanização de baixa densidade e uma cultura forte – das rendas de labirinto à pesca artesanal.

No litoral de Alagoas, São Miguel dos Milagres se destaca por seus bangalôs sustentáveis, onde a arquitetura respeita a natureza ao redor. Diferente de destinos superlotados, a cidade aposta em pousadas pequenas, praias preservadas e um turismo de experiência, reforçando a ideia de preservação, exclusividade e luxo sem excessos.

Vizinha de Jericoacoara, Preá (CE) tem atraído um público que busca exclusividade sem abrir mão da simplicidade. Hotéis de luxo integrados à paisagem, a preservação das dunas e um urbanismo minimalista fazem da vila um exemplo de como o turismo pode ser desenvolvido sem grandes intervenções.

Esses destinos mostram que é possível criar um urbanismo sofisticado sem abrir mão da identidade local. No entanto, o desafio está em evitar a massificação e garantir que as novas construções respeitem as características da região. A pressão imobiliária e o crescimento turístico podem ameaçar essa delicada harmonia, tornando essencial um planejamento arquitetônico e urbano criterioso.

O Nordeste, com mais de 3.000 km de costa, tem um potencial único para liderar um novo modelo de desenvolvimento urbano baseado no quiet luxury, onde a sofisticação não está no excesso, mas na qualidade dos espaços e na experiência proporcionada. Preservar a identidade local e promover um urbanismo que valoriza o contexto é essencial para que esses destinos continuem sendo exemplos de um luxo verdadeiro: aquele que respeita o lugar e quem vive nele.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbansita, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. (sophia.motta@psa.arq.br)
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