Edifícios mais altos permitem maior adensamento, sim!

18 de setembro de 2024

Quando o assunto é verticalização, surgem aquelas frases bastante faladas como “edifícios altos não são sinônimos de adensamento” ou “verticalização não significa adensamento”. Frases de meias verdades, ou melhor, incompletas, que deveriam ser finalizadas para maior entendimento da questão. De fato, o sentido literal delas ocorre, mas a completude de cada frase explicaria o porquê desse acontecimento. 

As duas frases deveriam ter estas continuações:

“Edifícios altos não são sinônimos de adensamento, pois as normativas urbanísticas induzem ao vertical restringindo o volume edificado”.

“Verticalização não significa adensamento, pois as normativas urbanísticas limitam as construções”. 

Uma vez que não dito o “porquê”, cai-se no equívoco de achar que mais altura não surgiu para permitir maiores concentrações de pessoas. 

Primeiro, as limitações de construções ocorrem quando as normativas urbanísticas estabelecem um valor – correlacionado à densidade – do quanto é permitido construir no local, muitas vezes chamado de “coeficiente de aproveitamento (CA)”. Esse limitante acaba por não permitir que determinada edificação cresça além do seu limite preestabelecido. 

Somado a essa questão, afastamentos e taxas de ocupação, ao espremer o edifício no lote, culminam por induzir a um vertical que poderia ter sido suportado por uma volumetria mais baixa e com menos pavimentos, digamos. Por isso, há determinados CAs elevadíssimos, em cidades mundo afora, com edifícios menores em número de pavimentos que as edificações de São Paulo, por exemplo.

Mas e se não houvesse esses limitantes e restrições?

O tão usual exemplo de adensamento, Paris, possui uma elevada densidade com edificações de até 7 pavimentos, bastante diferente dos padrões brasileiros. No entanto, se fosse duplicado o número de pavimentos, não teria sido a altura a permitir um maior adensamento?

Aliás, o fato de ter um ou dois pavimentos a mais já é um processo de verticalização estabelecido. Paris necessitou empilhar pavimentos, ou seja, se verticalizar para suportar a densidade que possui – somado ao fator de diminuição da metragem quadrada das suas unidades habitacionais. 

Existem outros e determinantes fatores ao se abordar o tema “densidade”, como o tamanho habitacional, a demanda e, inclusive, o número de pessoas vivendo em determinada unidade. Entretanto, cada pavimento a mais colocado permite uma aglomeração maior.

Há também a questão de que as densidades, usualmente tratadas, são contabilizadas para moradias, enquanto o “vai e vem” de pessoas em edifícios de escritório é definido como “densidade flutuante”. Nesse ponto, um dos lugares mais densos do planeta ao longo do dia é Midtown, em Nova York, região repleta de arranha-céus.

Então existe uma série de fatores a serem observados ao tratar do tema “densidade” e “adensamento”, mas o fato é que edifícios mais altos permitem a elevação dela, foi pra isso que eles surgiram. 

Quando ouvir novamente as cotidianas frases, lembre-se de que quem não permite que o adensamento ocorra não são os edifícios altos, e sim as normativas urbanísticas que acabam por moldar esse modo “não denso” de usufruir da altura, qualquer que seja ela.

Por fim, na próxima semana irei demonstrar na conferência internacional do Council on Tall Buildings and Urban Habitat – CTBUH, em Londres, como usufruir de todo potencial que as edificações em altura têm de adensar um local e, ao mesmo tempo, preservar ambiências históricas.  

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Mestre em Arquitetura e urbanismo (Uniritter/Mackenzie); Doutorando em arquitetura (PROPAR/UFRGS); Membro do Council on Tall Building and Urban Habitat (CTBUH). (luishbv@gmail.com)
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