A importância da forma tripartida

7 de agosto de 2024

Uma forma qualquer determina significados refletidos em um volume tridimensional. A forma na arquitetura provém do resultado da resolução de um problema que, por diversas vezes, ocorre por fatores do contexto em que ela está inserida. Ao tratar o formato de um edifício alto, as condições são as funções que a edificação irá exercer, como na emblemática frase de Louis Sullivan: “forma sempre segue função”.

O arquiteto norte-americano, em seu artigo “Tall Building Artistically Considered”, reflete sobre os edifícios altos de escritórios que surgiam em Chicago no final do século XIX. Sullivan afirma que a orientação de composição clássica de uma coluna – base, fuste e capitel – não deveria ser meramente estética, mas sim representar uma função. 

Essa divisão tripartida deve ser expressa na morfologia de uma edificação alta, porém, de maneira que a base, o corpo e o topo representem suas funcionalidades claramente. A integração tripartida incide na capacidade de compreensão formal e maior legibilidade à edificação. Além disso, pode impactar significativamente o local, do mesmo modo como o lugar influenciará diretamente a volumetria do edifício.

As funções que cada divisão do formato tripartido pode expressar são:

BASE

A base é a parte da edificação que toca o solo, o início volumétrico do edifício. Sua forma irá interagir com a vida urbana e é a primeira parcela da edificação a ser vista pelo público. Normalmente com poucos andares, configurará como o edifício alto se adapta à escala humana. 

Possui a função de contextualizar a edificação com o tecido urbano existente, ou, ainda, não existente. Pode ser em grandes embasamentos, na mesma proporção do corpo, e até mesmo vazada (aberta), gerando espaços públicos para a população. Em suas fachadas estão o acesso à edificação e as atividades que podem gerar vitalidade e segurança para as calçadas. Em suma, a base, ou podium, é o ponto de contato com a vida urbana.

CORPO

O corpo é a maior parte da forma e estende-se da base até o topo do edifício alto. Nesse volume ocorre a interação com a qualidade ambiental do espaço. O aspecto formal do corpo influencia no sombreamento produzido e na insolação recebida na edificação, por exemplo. É também o local em que o edifício expressa sua escala, que pode ser determinada por condicionantes da localização.

A funcionalidade da forma representa a utilização a ser explorada em grande parte do edifício. Diferentemente da base, que conecta a edificação em altura ao nível do pedestre, o corpo se relaciona com a cidade e pode servir como um marco ao local. Pode ser chamado de haste por ser a principal forma estrutural e arquitetônica do edifício alto.

TOPO

O topo é onde a edificação “encontra” o céu e seu formato normalmente é reduzido em relação às demais divisões. Ela pode representar a própria identidade do edifício, assim como o desejo de mais altura. Sua função, de modo geral, é técnica e estética, mas também pode servir como observatório para o horizonte.

O topo possuirá a competência de marcar a paisagem da cidade. Se sua forma for harmoniosa, poderá ajudar a configurar transições de variadas alturas em um skyline.

Os arquitetos e desenvolvedores que abordarem de maneira clara e eficiente cada uma das orientações apresentadas para a volumetria tripartida de um edifício alto poderão ter a certeza que estarão realizando um projeto que agregará para a cidade. Mas veja bem: sem invenções de estilos arquitetônicos, por favor.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Mestre em Arquitetura e urbanismo (Uniritter/Mackenzie); Doutorando em arquitetura (PROPAR/UFRGS); Membro do Council on Tall Building and Urban Habitat (CTBUH). (luishbv@gmail.com)
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